O filme, que estreia sexta, mostra o comportamento da juventude e como ela encara temas como sexo e uso de drogas
01.05.2012 | Atualizado em 01.05.2012 - 11:18
Gabriel
Camões
vida@correio24horas.com.br
O cinema brasileiro pensado para o grande público ganha
força esta semana com a estreia de um drama romântico de temática jovem: o
filme Paraísos Artificiais, que mergulha
na atmosfera das festas eletrônicas e discute a relação juventude e prazer.
Dirigido pelo carioca Marcos Prado, 50 anos, o longa-metragem
estreia sexta em mais de 230 salas de cinema de todo o país. Prado se tornou
conhecido em 2005, pela direção do documentário Estamira, que recebeu mais de
30 prêmios em festivais de cinema pelo mundo.
Sem perder o olhar de documentarista, Prado consegue
neutralizar o discurso do filme ao tocar em temas atuais e polêmicos, escapando
de uma visão moralista ao mesmo tempo em que não faz apologia ao consumo de
drogas. “Eu queria entender, sem fazer nenhum julgamento, o envolvimento dos
jovens com o mundo das drogas sintéticas”, explica Prado.
Ambientado nos anos 2000 e rodado no Rio de Janeiro, no
litoral de Pernambuco, e em Amsterdã, na Holanda, Paraísos Artificiais narra a
história de amor vivida entre um frequentador de raves, vivido pelo ator Luca
Bianchi, 33, e uma famosa DJ, interpretada por Nathalia Dill, 26, atriz que tem
se destacado por suas atuações na televisão.
Pesquisa - Com uma narrativa não-linear, o filme mostra três
momentos da vida dos dois jovens. Eles convivem em um mundo onde as drogas
sintéticas podem ser um atalho para o prazer, ao mesmo tempo que precisam
encarar seus dramas familiares e aprender a superar os erros e as perdas.
Para fugir dos estereótipos e se debruçar de maneira fiel no
universo das raves, Prado se dedicou a uma intensa pesquisa sobre este mundo
frequentado majoritariamente por jovens de idades próximas a do seu filho
adolescente, hoje com 18 anos.
“A ideia de fazer o filme nasceu de uma preocupação paterna
minha. Meu filho tinha 15 anos na época e eu comecei a ver o aumento de casos
em que jovens de classe média eram presos por se envolverem no tráfico de
drogas sintéticas”, comenta.
Durante quatro anos, Marcos Prado pesquisou e elaborou o
roteiro da produção, que foi feito em parceria com Pablo Padilla e Cristiano
Gualda. O diretor fez entrevistas com sociólogos, conversou com usuários e
traficantes e, no meio desse processo, encontrou o escritor mineiro Zuenir
Ventura, que pesquisava o mesmo tema.
“Ele estava investigando o mesmo assunto no período para
escrever um livro. Trocamos muitas ideias e acabamos colaborando um com o
outro”, revela Prado.
Mundo paralelo - Tentando entender quem é esse jovem, Prado mergulhou no universo das raves. Ele frequentou por dois anos a festa mais famosa do país neste nicho: a Universo Paralello, realizada em Pratigi, famosa praia localizada na região da Costa do Dendê, na Bahia.
“Visitei a festa e entrei em contato com uma realidade que
eu não conhecia, com a cabeça cheia de preconceitos, e lá percebi o quanto
estava enganado”, confessou o diretor e fotógrafo.
Nos dias em que esteve em contato com aquele mundo percebeu
que a maior parte das pessoas que frequentavam a festa estava lá para celebrar
um estilo de vida. O lugar reunia muitas famílias, salas de meditação, aulas de
pinturas e outras atividades.
Fascinado com esse universo, Prado resolver recriar a
atmosfera no filme. As cenas foram rodadas na praia do Paiva, em Pernambuco, e
foram necessários em torno de 1,5 mil
figurantes para que ele chegasse ao resultado desejado.
A ideia do diretor de criar uma contraposição com as raves
urbanas revela ao público leigo que esse universo das festas eletrônicas é bem
mais complexo do que se pensa.
Visceral - Para treinar o
elenco, Marcos Prado convidou Fátima Toledo, nome mais requisitado do
cinema nacional nessa área e que tem no currículo a preparação de atores em
filmes como Cidade de Deus e Tropa de Elite.
“Eu tomei o cuidado de me cercar de pessoas muito competentes.
Convidei a Fátima para preparar os atores porque é fato notório que ela
consegue resultados incríveis com a sua técnica”, afirma Prado. O processo
durou três meses e foi acompanhado de perto por Prado. “Eu estava sempre junto,
ajudando a criar e recriar as cenas. Dei liberdade aos atores e eles
colaboraram muito”.
O ator Luca Bianchi conta que teve uma das experiências mais
intensas ao trabalhar com a preparadora. “Foi muito desafiador, mas foi
maravilhoso. O resultado que a gente alcança com ela é realmente visceral”
revela o ator. Em Paraísos Artificiais, ele encara pela primeira vez o desafio
de ser protagonista, ao dar vida ao personagem Nando.
Antes, ele havia feito uma participação em Tropa de Elite 2.
“Lá eu tive contato com o Marcos e isso abriu possibilidades para fazer os
testes para o filme”, declara.
Parceria - Produtor da bem-sucedida franquia Tropa de Elite e dos
demais filmes dirigidos pelo sócio e amigo José Padilha, chega a vez dos papéis
se inverterem. Padilha assina a produção desse projeto, que tem boas chances de
ir bem na bilheteria.
Com um orçamento total de R$ 10,5 milhões, Paraísos
Artificiais é um filme sensível, com
discurso equilibrado e uma aposta inteligente da dupla Prado e Padilha.
Vale a pena conferir este drama romântico, que em momento
algum perde de vista o compromisso de provocar reflexões a respeito do
comportamento da juventude nos dias de hoje.
Assista ao trailer do filme:
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