Entre os reféns, eu, de cabeça baixa e com as mãos para o alto (camisa branca)
(Foto: William Ribeiro/Jornal Informe Ativo)
Depois do susto (quase 10 dias depois), e de muito agradecer a Deus, só agora publico este post, com um pequeno relato sobre o que vi e ouvi.
Eram, umas 11h, quando um carro para na frente do banco, uma pessoa sai do banco de trás, vestido de roupa do exército, encapuzado, saca um fuzil, engatilha e atira nos vidros do Banco Bradesco.
Só tive tino para puxar Jôse para o chão, que assustada e com as pernas travadas, não conseguia se abaixar. Depois de "tudo dominado" dentro da agência, um dos assaltantes ordena: "Quem estiver com criança, saia agora!"
Jôse ainda muito assustada, não conseguia se levantar. Com minha ajuda, ela conseguiu levantar e saiu correndo. Quando vi minha mulher e meu filho caçula saindo, me deu uma tranquilidade...
Foi muito rápida essa minha sensação. Um dos assaltantes me pegou pela manga direita da minha camisa, começou a me levar para o lado de fora, apoiando um fuzil no meu ombro esquerdo e disse: "Coloque as mãos para cima e fique na sua ai, playboy!".
Já do lado de fora, ele disparou duas vezes em direção a delegacia e depois me soltou e me mandou se juntar com os outros na esquina da rua da Cachoeira, fazendo um dos cordões humanos, para garantir a "segurança" deles.
Enquanto dois homens faziam a limpa dentro do banco, três homens do lado de fora, controlavam os reféns.
Muitas pessoas chorando, rezando... Um dos assaltantes afirmou: "Fiquem calmos. Eu também tenho família e sei como é. Colaborem e daqui a pouco estarão todos em casa".
Na hora da fuga, eles gritaram: "vamos só os jovens! Mulheres e idosos não!"
Tentei ficar quietinho no meu lugar, mas um deles me puxou pelo braço. "Vamos, playboy!"
Já em cima da caminhonete, apertado no canto da carroceria, continuei de cabeça baixa e em silêncio. Um dos assaltantes, que ficou no fundo da caminhonete, pediu o meu óculos escuros. "Me dá essa lupa ai, playboy."
Quando tentei tirar da minha cabeça, prendeu no cabelo e de tanto eu puxar, quebrou uma perna. Daí, o cara disse: "Xiiii... num quero mais não... deixa pra lá!" e ainda riu!
Com o balanço do carro, correndo em alta velocidade na pista sinuosa e esburacada, meu corpo ia se imprensando no fundo da caminhonete. Entre o meu corpo e a tampa da carroceria, a perna de um dos assaltantes. E, na lateral, minhas costas iam sofrendo com umas peças de ferro. Pensei que ia perfurar minhas costas. Mas, Graças a Deus, só alguns arranhões.
O assaltante me surpreendeu:"Está se machucando, playboy?"
Eu respondi que só um pouco, mas tava tranquilo. Ele disse: "Deixe de ser valente! Se ajeite ai!"
Me ajeitei e melhorou a situação.
Logo em seguida, ele mandou: "Se segure nesta corda!"
Eu, inocente, respondi que não precisava.
Ai, ele disse: "Olha! Me ajude que eu te ajudo! Segure firme nesta corda que eu preciso me segurar nela!"
Segurei com todas as minhas forças e ele me agradeceu: "Assim! Valeu!"
Quando estávamos aproximadamente no Km 07, eles pararam, mandaram todos os reféns descerem e irem para suas casas.
Momento de alívio mesmo, só depois que viramos a primeira curva. Quando ainda estavamos caminhando, dei umas duas olhadas para trás e vi eles jogando gasolina na caminhonete e ateando fogo.
Abaixo, a notícia publicada no site G1 Bahia:
Grupo assalta
agências bancárias de Ituberá (BA) e faz reféns.
Cerca de 20 homens
participaram da ação, segundo a polícia.
Bancos foram assaltados enquanto policiais eram mantidos na delegacia.
(Foto: William
Ribeiro/Jornal Informe Ativo)
Cerca de 20 homens
armados assaltaram duas agências bancárias no município de Ituberá, região do
baixo sul da Bahia, no fim da manhã desta sexta-feira (1). Segundo a polícia,
os suspeitos foram para a frente da delegacia, que fica próxima às agências
bancárias, e mantiveram os agentes dentro da unidade policial, enquanto
assaltavam os bancos.
O agricultor
Antônio Gomes Carvalho, de 61 anos, estava em um dos bancos no momento da ação.
"Eu estava usando o caixa eletrônico quando um bando de homens entrou
gritando que era assalto. Só deu tempo de me jogar embaixo das mesas. Eles
entraram atirando nos vidros do banco e os pedacinhos caíram em cima de mim e
fiquei ferido", diz.
De acordo com a
assessoria de comunicação do município, um rapaz de 21 anos foi baleado na boca
e foi socorrido para o Hospital Municipal, sendo encaminhado posteriormente
para Itabuna, infelizmente não resistiu e faleceu. Outras quatro mulheres foram hospitalizadas em estado de choque.
Algumas pessoas foram feitas reféns durante a fuga dos suspeitos, que seguiram
sentido Gandu. Os reféns foram liberados logo depois, no km 07 da rodovia BA_525. A polícia faz
buscas na região e conta com o auxílio de delegacias de municípios próximos.
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