por Intervozes — publicado 13/02/2014 23:22, última modificação
14/02/2014 12:19
Por Mayrá Lima*
Excelente texto de Mayrá Lima, do Intervozes.
Para os leitores que não concordarem com o texto; se "não curti" o MST; e, para quem não entende nada de reforma agrária: Voce(s) está(ão) perdoado(s)!!! E, automaticamente estão gentilmente dispensados da atitude reacionária de tecer críticas exageradas, parcias, discriminatórias e de querer polemizar. Abração e a amizade continua! hehe
Ao longo desta semana, milhares camponeses e camponesas organizados
pelo MST realizaram seu VI Congresso Nacional em Brasília. Na pauta de debates,
a organização e luta do movimento para os próximos cinco anos e a apresentação
do novo programa agrário, a chamada Reforma Agrária Popular. Uma marcha com 15
mil pessoas ocupou Brasília e a praça dos Três Poderes e foi o 5º assunto mais
comentado no mundo através do Twitter. Após isso, uma reação policial que
indignou cada militante social ali presente.
Só com essa introdução, este post poderia abordar a cobertura
tendenciosa realizada uma vez mais pela grande mídia brasileira de uma ação do
MST. Manifestação virou sinônimo de vandalismo. Não se discute as causas que
levaram 15 mil pessoas às ruas em profundidade. E isso não ocorre somente com o
MST, mas sim com qualquer protesto que envolva trabalhadores e trabalhadoras
deste País.
Mas quero trazer aqui uma outra face do MST. Aquela em que a
comunicação se torna um componente importante para a luta pela terra e por
reforma agrária.
Para os sem terra, a comunicação popular é fundamental no processo
coletivo de formação e organização, sendo mais antiga que o próprio MST, como
movimento nacional, que completou 30 anos em janeiro. O Jornal Sem Terra, por
exemplo, é um dos precursores do jornalismo popular camponês. Lançado em 1981,
no acampamento da Encruzilhada Natalino, em Ronda Alta (RS), o jornal é mais
que um instrumento de divulgação das bandeiras de luta; ele serve para a
formação e mobilização de camponeses e camponesas Sem Terra.
Hoje, o MST conta com uma série de outros meios de comunicação. A
página do movimento na internet, por exemplo, é um contraponto à mídia burguesa
em uma série de matérias e reportagens que mostram a vida no campo de forma
diferente dos grandes jornais alinhados à visão política do monopólio
midiático.
As rádios dentro dos assentamentos são outro exemplo de luta e
organização. São rádios populares, que representam a grande comunidade que é um
assentamento rural. Outra iniciativa está na inserção política do MST nas redes
sociais, em uma experiência de tornar coletivo o que é individual por natureza,
como é o caso do Facebook e o Twitter.
Mais recentemente, o movimento passou a investir na formação de comunicadores
populares através do curso de jornalismo da terra na UFC (Universidade Federal
do Ceará). Em 2013, 44 filhos e filhas de assentados romperam as cercas da
universidade e, hoje, estão capacitados para atuar na comunicação de seus
estados, realizando coberturas das ações e do dia a dia do MST.
Vale ressaltar que a legislação brasileira acerca da comunicação
dificilmente leva em conta o campo brasileiro. Se citarmos o rádio, o limite de
1km de alcance de transmissão imposto para o funcionamento de uma rádio
comunitária não atende nem de perto às grandes extensões dos assentamentos
rurais. Ao mesmo tempo, a internet, já dentro do cotidiano das áreas urbanas,
ainda é um problema nas áreas camponesas, onde o sinal telefônico não chega - o
que dizer então da banda larga.
E quando se trata da organização dos trabalhadores camponeses, o
enfrentamento às barreiras do monopólio é cotidiano. A criminalização e a
invisibilização das lutas camponesas faz parte de um posicionamento da grande
mídia monopolizada em poucas famílias e ideologicamente alinhadas ao latifúndio
e ao agronegócio.
Assim, o MST se soma à luta pela democratização da comunicação e faz
dela uma de suas principais bandeiras. Está firme na coleta de assinaturas para
o projeto de lei de iniciativa popular da mídia democrática e é um aliado de
peso contra o latifúndio da comunicação, tão cruel quanto o latifúndio da
terra. Nesses 30 anos do MST, essas duas lutas caminham mais juntas do que
nunca.
* Mayrá Lima é jornalista e
mestra em Ciências Sociais, integrante do setor de comunicação do MST e do
Conselho Diretor do Intervozes.
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