Antônio Parreiras: O Primeiro Passo para a Independência da Bahia, Palácio do Rio Branco, Salvador, Bahia.
No dia 2 de julho de 1823, o Brasil conquistou de fato a sua independência. Infelizmente, muitos brasileiros desconhecem esse fato importantíssimo em nossa história.
Nós, baianos, temos obrigação de conhecer.
Com muito orgulho, compartilho nesta postagem informações importantes, fundamentais para entender o 2 de Julho, na intenção de incentivar a reflexão sobre a data da Independência do Brasil na Bahia.
Primeiro, para entender a parte história, um texto do Blog Jeito Baiano, publicado no site do Jornal A Tarde.
Em seguida, um texto sobre Maria Quitéria, baiana arretada, nascida no interior. Um dos símbolos máximos desta conquista, juntamente com Joana Angélica, Maria Felipa e o Caboclo.
Por fim, o belíssimo vídeo da campanha do Governo do Estado da Bahia.
Boa leitura!
Independência do Brasil na Bahia
Postado por Jary Cardoso, em 2 de Julho de 2009.
DOIS DE JULHO,
UMA FESTA DO POVO
por zédejesusbarrêto*
por zédejesusbarrêto*
“Dois de Julho é a data da independência do Brasil na Bahia”, na definição do professor e historiador Luis Henrique Dias Tavares.
O que isso significa?
Significa que o “Independência ou Morte!” gritado pelo jovem imperador Dom Pedro I, nas margens do riacho do Ipiranga, em São Paulo, no 7 de setembro de 1822, de nada valeu na Bahia controlada pelos interesses portugueses. Salvador continuava sendo um dos portos mais importantes do atlântico sul e o tráfico de escravos enriquecia muitos comerciantes, aqui e na África.
Mesmo com o brado de Dom Pedro, as cortes de Lisboa mantinham o domínio do nosso estado e, a partir daqui, esperavam controlar todo o norte e nordeste. Mas, já há algum tempo descontentes com o jugo português e movidos pelo ideário iluminista de liberdade, igualdade e fraternidade, os baianos entraram em guerra com o objetivo de afastar e expulsar os colonizadores portugueses do comando da capital e da região. A reação começou no recôncavo.
O 2 de julho é a data da libertação, da nossa verdadeira independência conquistada com a vontade, o suor e o sangue dos baianos, do povo – aí incluindo-se uma elite de proprietários de terras e escravos do recôncavo, comerciantes, uma classe média mais ou menos instruída e libertária, lavradores, pequenos negociantes e até escravos. Brancos, caboclos, negros afrobrasileiros, mulatos, homens e mulheres …
A real e total independência política da nossa nação, a consumada e definitiva separação de Portugal aconteceu com o enxotamento, a fuga das tropas do comandante luso Madeira de Mello e a entrada na capital do exército libertador vitorioso em 2 de julho de 1823.
Daí, como disse o mestre, Dois de Julho é a data da Independência do Brasil na Bahia!
Uma manifestação popular
Como dizem os historiadores, o nosso 2 de julho é um exemplo de manifestação cívica e popular, uma festa essencialmente democrática. Certamente, a única festa cívica brasileira com raízes e características tão populares. Desde a sua origem e ainda hoje.
“O desfile histórico do 2 de julho é patrimônio intangível, cultuado e preservado por todos os que se orgulham da sua ancestralidade e demonstram engajamento em reivindicações comunitárias, patrióticas, amorosas. A festa da independência é vivida pela consciência de que os acontecimentos do passado ainda não se extinguiram. A liberdade e a igualdade social ainda são um objetivo, uma luta.”
(O texto é da pesquisadora, historiadora e escritora Socorro Targino Martinez)
Em 1823, as tropas vitoriosas vindas do recôncavo e de Pirajá entraram na cidade pelo Caminho das Boiadas (que passou a se chamar Estrada da Liberdade, hoje a avenida Lima e Silva). Eram negros, brancos, caboclos, maltrapilhos, famintos, cansados e vitoriosos depois de quase dois anos de lutas e resistência, sitiando a capital, encurralando e enfrentando as tropas de Madeira de Mello.
O português fugiu na madrugada, pelo mar. E o Exército Libertador foi aclamado nas ruas. Esse é o simbolismo do desfile, a recriação popular do acontecido em 1823.
Há um histórico caráter de protesto e reivindicatório no desfile.
São manifestações já presentes, visíveis e motivadoras logo no ano seguinte, no 2 de julho de 1824, quando a fatia da população mais pobre que deu o suor e o sangue de suas vidas nas batalhas, revivendo a façanha do ano anterior, quis mostrar também que os negros, os caboclos, os que pegaram em armas e arriscaram tudo pelos ideais de liberdade e igualdade continuavam desassistidos e nada tinham lucrado com a guerra e a expulsão dos portugueses.
Diz o historiador baiano Sérgio Guerra Filho: Fizeram parte do Exército Libertador “lavradores, desocupados, oficiais mecânicos ou pescadores, livres não-proprietários, libertos e até escravos, negros, mestiços, brancos pobres e índios, homens e mulheres, jovens e idosos que se apresentaram, na maioria das vezes, como voluntários para a guerra contra os portugueses e o general Madeira”
Mas, finda a guerra, o poder continuava nas mãos dos brancos, dos grandes comerciantes, dos coronéis do recôncavo, os senhores da política , enquanto a pobreza, a fome e a escravidão continuavam as mesmas de antes da guerra, ou ainda piores. A tirania e o autoritarismo, os mesmos.
A primeira metade do século XIX na Bahia, em Salvador especialmente, foi de agitação, insurreições e muita repressão contra os negros, sobretudo. Grandes exemplos são as revoltas Malês e a Sabinada, nos anos 30.
Soldado Maria Quitéria de Jesus Medeiros
Mas, desde 1824 até hoje o desfile do Dois de Julho sempre aconteceu. E, apesar de tantas tentativas dos políticos de plantão em transformar a festa num evento oficial e eleitoreiro, o nosso Dois de Julho continua sendo uma manifestação livre do povo, uma festa democrática, onde cabem as vozes da diversidade, todos os clamores do povo.
Ainda citando o historiador Sérgio Guerra Filho: “… o povo volta às ruas, todo ano, no dia 2 de julho, afirmando que, além de Labatut, Lima e Silva, du Pin e Almeida, Cochrane e outros, seus heróis de vida são os anônimos heróis que raramente aparecem nos documentos, não ganharam nomes de ruas ou monumentos. Mas marcaram com sua presença – e muitas vezes com sua rebeldia e insubordinação, demonstrando seus anseios políticos e a sua discordância com os rumos do estado imperial – durante os anos da guerra a sua luta em busca da igualdade e da liberdade”.
A heroína Maria Felipa de Oliveira em desenho de Filomena Orge
Símbolos e heróis
Não é à-toa que o símbolo maior do Dois de Julho é o caboclo, o brasileiro nato, herdeiro dos guerreiros tupinambás. Símbolo também da miscigenação. É ao caboclo e à cabocla que o povo presta toda sua reverência, até hoje, no Dois de Julho. Mesmo reconhecendo o heroísmo da madre Joana Angélica, que caiu diante das baionetas lusas; mesmo saudando os feitos de João das Botas que enfrentou com saveiros e emboscadas entre as ilhas e enseadas da baía de Todos-os-Santos as naus de guerra portuguesas; exaltando também o destemor, a coragem e o heroísmo da jovem cabocla cachoeirana Maria Quitéria de Jesus Medeiros, e da negra itaparicana Maria Felipa…
Mas é o caboclo que simboliza o povo e sua eterna luta pela liberdade. É ele que rege e vai à frente do desfile, aclamado. É nos pés dele que o povo deposita seus pedidos, suas preces.
É pra ele que os terreiros de candomblé de Angola (nação banto), e de origem cabocla batem seus tambores nas noites do Dois de Julho, em toda a Bahia.
Segundo os historiadores, o carro do caboclo foi fabricado em 1828, por Bento Sabino, que utilizou na feitura as rodas de carretas de guerra tomadas dos inimigos em campos de batalha. O caboclo, ornado de penas, tem uma seta e uma taquara que esmagam a cabeça da serpente do despotismo. O carro com a cabocla foi construído em 1840.
Já o monumento ao Dois de Julho, na praça do Campo Grande, foi inaugurado com a praça em 2 de julho de 1895, uma relíquia do iluminismo francês. A escultura é projeto do italiano Carlos Nicoli e o monumento foi executado em Gênova pela empresa Pitombo Podestà & Cia. Na época, “o maior monumento de toda a América do Sul”.
“É uma gigantesca coluna em bronze, estilo coríntio, assentado num bloco de mármore de Carrara, tendo em duas faces laterais magníficos baixo-relevos lembrando as cidades de Itaparica e Cachoeira, que tiveram papel preponderante nas lutas da independência. Em cima da coluna ergue-se um indígena, o caboclo, de 2m80cm de altura, calcando os pés sobre a serpente do despotismo” – Descreveu o Diário do Povo de abril de 1888.
No monumento se pode ver ainda datas alusivas aos feitos heróicos, alegorias, uma homenagem a Catharina Paraguaçu, armas, leões, escadarias, gradis e lampiões. O monumento foi recuperado no início dos anos 2.000, como toda a praça, e encontra-se em bom estado de conservação.
(...)
*zédejesusbarrêto – jornalista e professor licenciado em Ciências Sociais pela UFBa
Maria Quitéria
por Portal Brasil Publicado: 05/04/2012 11h27
Última modificação: 28/07/2014 16h31
Diz-se que o soldado Medeiros, que em 1822 juntou-se às tropas que combatiam os portugueses no movimento de Independência do Brasil, era muito hábil com as armas, disciplinado e audacioso. Se por essas características qualquer combatente já mereceria destaque, um detalhe o fazia ainda mais singular. O soldado Medeiros era na verdade uma mulher: Maria Quitéria de Jesus Medeiros, a primeira brasileira a integrar uma unidade militar no País.
Nascida provavelmente em 1792 na Comarca de Nossa Senhora do Rosário, em Feira de Santana (BA), filha de um fazendeiro da região, Maria Quitéria teve uma infância livre e feliz até a morte de sua mãe, quando teve que assumir a tarefa de cuidar dos dois irmãos mais novos. Em 1822, os partidários da Independência do Brasil começaram a percorrer a Bahia à procura de voluntários e doações para a luta contra os portugueses.
Ao saber da convocação, pediu permissão ao pai para se alistar, mas ele não deixou. Ela então se disfarçou de homem, tomando roupas emprestadas do cunhado e, contra a vontade do pai, alistou-se no regimento de artilharia, como o soldado Medeiros. Depois foi transferida para a infantaria e passou a integrar o Batalhão dos Voluntários do Imperador, tornando-se a primeira mulher a pertencer a um unidade militar no Brasil.
Duas semanas depois, foi descoberta pelo pai, que a procurava. Entretanto, devido à facilidade com que manejava as armas e por sua disciplina, o major Silva e Castro não permitiu que ela fosse desligada do grupo. Maria Quitéria conquistou o respeito dos companheiros, assumiu a sua condição feminina e não precisou mais usar roupas masculinas. Destacou-se pelo seu entusiasmo e bravura. Sua luta influenciou outras mulheres, formando um grupo feminino liderado por ela.
Depois que D. Pedro I declarou a Independência do Brasil, em 7 de setembro, as tropas portuguesas continuaram lutando no País. Na batalha que ocorreu na foz do rio Paraguaçu, em solo baiano, o grupo de mulheres comandadas por Quitéria se destacou. Quando os portugueses foram derrotados, em julho de 1823, Maria Quitéria foi reconhecida como heroína das guerras pela Independência e homenageada pelo imperador, recebendo o título de Cavaleiro da Ordem Imperial do Cruzeiro.
Mesmo com roupas de soldado, muitos cronistas da época diziam que Maria Quitéria mantinha sua feminilidade e tinha uma beleza marcante. Diz-se também que usava uma farda azul com um saiote que ela mesma havia feito e um capacete com penacho. Sua independência pessoal serviu de incentivo para os futuros movimentos feministas.
Apesar de suas lutas e conquistas pelo País, Maria Quitéria passou a viver no anonimato após o casamento com o lavrador Gabriel Pereira de Brito, antigo namorado, com quem teve uma filha, Luísa Maria da Conceição. Depois da morte do marido, foi para Feira de Santana tentar receber parte da herança do pai, mas desistiu do inventário. Mudou-se com a filha para Salvador, onde ficou progressivamente cega e faleceu em 1853.
Maria Quitéria é patrona do Quadro Complementar de Oficiais do Exército Brasileiro. Em 1953, aos cem anos de sua morte, o governo brasileiro decretou que o retrato de Maria Quitéria fosse inaugurado em todos os estabelecimentos, repartições e unidades do Exército do Brasil.
HINO DO ESTADO DA BAHIA
2 DE JULHO
Música – José dos Santos Barreto
Letra – Ladislau dos Santos Titara
Nasce o sol ao 2 de Julho,
Brilha mais que no primeiro!
É sinal que neste dia
Até o sol, até o sol é brasileiro.
Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações!
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações!
Salve Oh! Rei das campinas
De Cabrito e Pirajá!
Nossa pátria, hoje livre,
Dos tiranos, dos tiranos não será!
Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações!
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações!
Cresce! Oh! Filho de minh’alma
Para a Pátria defender!
O Brasil já tem jurado Independência,
independência ou morrer!
Nunca mais, nunca mais o despotismo
Regerá, regerá nossas ações!
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações!
Com tiranos não combinam
Brasileiros, brasileiros corações! (bis)
Fonte: http://www.pm.ba.gov.br/Hinos/Letras/hino2jul.pdf
Descrição: Sou mais a Bahia, Terra da Independência. Há 192 anos, o Brasil conquistava de vez a sua independência. Graças a um povo batalhador, que não cansa de lutar pela liberdade, pela justiça e por uma vida melhor, todos os dias, de sol a sol. É para todos os baianos, que lutam por um país e um estado cada vez mais livre, a nossa homenagem.
2 de julho - Governo da Bahia
Comentários
Postar um comentário