Sobre o Dia Mundial das Comunicações


 

O Dia Mundial das Comunicações Sociais, a única celebração mundial estabelecida pelo Concílio Vaticano II (Decr. Inter mirifica, 1963), está marcada na maioria dos países, por indicação do episcopado mundial, para o domingo de Ascensão, precedente a Pentecostes. Em geral, o anúncio do tema é divulgado no dia 29 de setembro, festa dos Arcanjos S. Miguel, S. Rafael e S. Gabriel, o qual foi designado Padroeiro dos radialistas.

É sempre importante mencionar a origem e trajetória do Dia Mundial das Comunicações a fim de que se crie uma cultura sobre a profundidade de um “mandato” da Igreja, que passa despercebido, inclusive, por vários setores da Instituição. Trata-se de algo solicitado pelo Concílio Vaticano II, quando a Igreja, levando em consideração as profundas transformações da sociedade e avanços na área tecnológica em todos os setores, percebeu, também, o seu “despreparo” neste campo. Assim, a ela entendeu que, a respeito da comunicação, não bastava apenas a profissionalização e competência técnica no uso dos meios, mas o compreender a evolução da comunicação, na suas mais diferentes expressões, como linguagem, cultura e, sobretudo, como elemento articulador da sociedade.
Encontramos a afirmação, então, no Decreto Inter Mirifica (n.18): “Para reforçar o variado apostolado da Igreja por intermédio dos meios de comunicação social celebre-se anualmente, nas dioceses do mundo inteiro, um dia dedicado a ensinar aos fiéis seus deveres no que diz respeito aos meios de comunicação, a se orar pela causa e a recolher fundos para as iniciativas da Igreja nesse setor, segundo as necessidades do mundo católico”.

Com a finalidade de levar adiante a atenção-ação nesse importante setor da comunicação, e lembrando o reconhecimento que o decreto Inter Mirifica (Concílio Vaticano II) externara sobre a importância da comunicação, o Papa Paulo VI, cria, em 1964, através do documento In fructibus multis, a Pontifícia Comissão para as Comunicações Sociais, com a finalidade de coordenar e estimular a realização das propostas dos Padres Conciliares.

A fim de colocar em prática as recomendações já mencionadas, a Pontifícia Comissão, após receber o parecer de presidentes de Comissões Episcopais, em 1964 e 1965, sobre como aplicar o que foi estabelecido no n.18 do Inter Mirifica, criou o Dia Mundial das Comunicações Sociais (em 1966), com a aprovação do Sumo Pontífice. E no dia 7 de maio de 1967 celebrou-se pela primeira vez, no mundo inteiro, o dia Mundial das Comunicações Sociais (celebrado sempre no domingo da Ascensão).
Se quiséssemos, então, sintetizar, três foram os objetivos fixados pelo Concílio Vaticano II e, um quarto, pela Instrução Pastoral Communio et Progressio:

1.- A formação de consciências frente às responsabilidades que tocam a cada indivíduo, grupo ou sociedade, como usuários desses meios.
2.- O convite dirigido a todos os que crêem para rezar a fim de que tais meios sejam empregados conforme o desígnio de Deus sobre a humanidade (ou seja, para o bem comum).
3.- O estímulo oferecido aos católicos para sustentar com generosidade, num gesto de solidariedade, as iniciativas de evangelização no campo da comunicação social.
4.- Realçar o papel de todos os que trabalham no área da comunicação (Communio et Progressio n.° 167).

Portanto, com o intuito de “suscitar na Igreja e no mundo uma atitude social nova e salutar com relação ao uso desses instrumentos”, desde 1967, os Papas escrevem anualmente uma mensagem, discorrendo sobre o tema escolhido para a reflexão de cada ano. Em 2009, temos a significativa mensagem de Bento XVI “Novas tecnologias, novas relações. Promover uma cultura de respeito, de diálogo, de amizade”

Primeiramente, percebe-se a atualidade da mensagem, expressa já no título por parte de Bento XVI, que reafirma o pensamento positivo do Magistério sobre a comunicação, semeado ao longo de seus documentos. É a consideração das “maravilhosas invenções técnicas”, dons de Deus, na medida que criam laços de solidariedade entre as pessoas, e são também o resultado do esforço humano, portanto do processo histórico - científico. O avanço das tecnologias de comunicação, entretanto, constitui para a Igreja, não somente objeto de “uso” dos meios, mas uma preocupação e um incentivo para perceber a comunicação “mais do que um simples exercício na técnica” (Igreja e Internet,n.3).

Na verdade, a Igreja, já no seu documento Redemptoris Missio (n.37c-1990), chamava a atenção para um aspecto fundamental que constituiu a grande “reviravolta” da reflexão do magistério eclesial em relação ao mundo da comunicação e que é de capital importância neste momento da historia Igreja-sociedade. A Igreja esforçou-se para compreender os new media, e progrediu no expressar-se com mais clareza a respeito do impacto que eles têm na construção social, e passou, então, a refletir sobre a comunicação (embora haja muito caminho a fazer!) não mais de forma restrita ou somente como “meios” ou “instrumentos” (isolados) a serem usados ou dos quais se precaver. Mas a Igreja ela refere-se ‘a cultura da comunicação como que a um “ambiente” no qual estamos imersos e do qual participamos. Trata-se de uma cultura. A cultura midiática, onde a comunicação é o elemento articulador das mudanças que ocorrem na sociedade de hoje. Há uma crescente consciência das profundas transformações operadas pelos novos meios de comunicação e, portanto, diz o referido documento “não é suficiente, usá-los [os meios] para difundir a mensagem cristã e o Magistério da Igreja, mas é necessário integrar a mensagem nesta 'nova cultura', criada pelas modernas comunicações”.


Fonte do texto: https://www.paulinas.org.br/sepac/?system=paginas&action=read&id=1682

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