Estou assistindo à novela Guerreiros do Sol, do Globoplay, e confesso: não é só uma trama sobre cangaceiros, amores e batalhas. É também um espelho — e uma ponte — para um Brasil que eu, até pouco tempo atrás, não conhecia de verdade.
A história de Rosa e Josué, inspirada em Lampião e Maria Bonita, se passa no sertão das décadas de 1920 e 1930. Mas o que me prende à tela não é só o enredo eletrizante ou o elenco afiado. É a paisagem. É o chão rachado, o céu imenso, a poeira que dança com o vento. É a força de um povo que resiste, que ama, que sonha — mesmo quando tudo parece querer calar.
Em 2023, fui ao sertão pela primeira vez. Canudos, entre outros lugares. Eu, que nasci e cresci na Bahia, percebi o quanto conhecia pouco da minha própria terra. O sertão que eu imaginava era o da caricatura: seco, pobre, violento. E isso me doeu. Mas ao mesmo tempo fiquei imensamente feliz! Porque o que encontrei foi bem diferente: a Caatinga, em especial a ecorregião do Raso da Catarina, é um lugar rico, de muitas belezas, de histórias, de lutas, de conquistas, de aprendizados, de gente forte e resistente, cheios de esperança e atitude, que fazem acontecer.
Cada encontro que tive por lá foi uma troca. De palavras, de silêncios, de energia. Fui com humildade, voltei com gratidão — e com outra visão do mundo. Porque o sertão me ensinou — e ainda ensina — sobre coragem, sobre dignidade, sobre pertencimento.
Assistir Guerreiros do Sol agora é como revisitar tudo isso. É ver na ficção um retrato mais justo, mais sensível, mais potente do sertão real. E é também um lembrete: precisamos contar nossas histórias com mais verdade, mais afeto, mais escuta.
Se você ainda não viu, recomendo. Mas veja com o coração aberto. Porque o sertão não é só cenário — é personagem. E, se você deixar, ele também pode atravessar você.
Minha ida ao sertão foi possível graças à Fundação Biodiversitas, que criou e mantém a Estação Biológica de Canudos — uma reserva dedicada à proteção da arara-azul-de-lear, espécie endêmica da Caatinga baiana e ameaçada de extinção.
Fui convidado para um desafio especial: colaborar com o planejamento de um projeto de turismo de base comunitária, integrando a EBC ao roteiro turístico de Canudos e região. A ideia é ampliar a visitação à arara-azul-de-lear e, com isso, atrair mais doadores e projetos que fortaleçam o programa de conservação da espécie.
A experiência foi transformadora. Ver de perto o trabalho da equipe local, formada por moradores capacitados, e sentir o impacto positivo da conservação na vida das pessoas me fez acreditar ainda mais no poder da conexão entre natureza, cultura e comunidade.
A arara-azul-de-lear é símbolo de resistência — assim como o sertão. E contar essa história, agora, é também uma forma de proteger tudo isso.
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